terça-feira, 30 de setembro de 2014

O fingido: Resenha do Fragile Jean Paul Gaultier


Santa Ironia Batman!
Ou Melhor, titio Gaultier. Esse infant terrible....

Pessoal cheiroso, aqui estou again.  Coisa rara postar uma resenha depois da outra. Ou a minha imaginação anda afiada ou dei a sorte (ou azar...) de experimentar outro perfume de insight imediato.

Eu não possuo o belo e lúdico frasco de Fragile. Hoje, durante um dia chuvoso de trabalho chegou a pessoa que mais dá alegria à um apaixonado por perfumes.

Esse cara aqui: 
Felicidade de Perfumólatra vem das mãos do carteiro
Era uma caixinha de uma troca realizada com a querida Luciana Gentil De Tommaso. Então Lu, esta resenha foi feita em sua homenagem!

A própria Lu me mandou amostra de Fragile EDT porque precisava saber a minha impressão dele. A estranheza sentida por ela seria compartilhada pela minha pessoa também? Desafio dado, desafio realizado.

Provei.
Ó a minha cara ao sentir o perfume:


O nariz por trás de Fragile é o conceituadíssimo Francis Kurkdijian, criador de muitos da casa Jean Paul Gaultier como Classique, Le Male, Gaultier² (amor eterno) entre muitos outros. Nasceu em 1999. A intenção do mestre ao pontuá-lo com esse frasco aparentemente frágil,  uma embalagem que lembra caixa de encomenda carimbada e gritando esta característica é justamente brincar com o cliente que o leva.

Fragile pode ser tudo, mas a última coisa que ele se mostra é ser meigo e suave. Na verdade eu sinto falta de mais um símbolo na caixa, ou todos os demais abaixo.


Vamos encarar? Primeiro veremos a pirâmide do bonito:


Notas de Saída:
Tangerina italiana, coentro, gengibre, flor de laranjeira tunisiana, bergamota, anis estrelado, rosa

Notas de corpo:
cravo, tuberosa, Íris, jasmim, gengibre, ylang ylang, rosa

Notas de fundo:
âmbar, canela, almíscar, baunilha, cedro

Perceberam a salada que é essa pirâmide? Temos super-especiarias (coentro, anis, gengibre, cravo, canela), flores mega marcantes (tuberosas, ylang, jasmim e íris) sobre um prato de âmbar e muito, MUITO almíscar. 

A cena imaginada foi escalafobética, quiçá assustadora, já aviso. Mas, como sempre reitero, a experiência com um perfume é pessoal e ele pode se comportar de formas distintas em peles alheias. 

Você é homem. Caminha apressado pelas ruas do bairro de Georgetown, Whashington, já na escuridão. Veste um longo casaco negro e chapéu, carrega uma maleta consigo. A chuva cai sem mostrar sinal de parar, os becos entremeados por pontos de luz deixam a impressão de uma cidade fantasma, perigosa e indolente.

Pára um segundo e ouve algo atrás de si. Pego se surpresa, sente uma lancinante dor no rosto sem saber o que está a acontecer

A tontura o leva ao chão e a única visão que consegue ter em meio à confusão é um  soco inglês pingando parte de suas hemácias que já não residem mais em suas veias enquanto o seu agressor foge correndo. 

 Dor pulsátil, visão turva. O gosto metálico de sangue invade a sua garganta. Levanta-se e tenta recompor-se. Você precisa estar bem para o que irá enfrentar.

Chega até a casa e observa a luz lugrubriante que sai da janela. Ouve sons desconectos. Caminha até a porta e entra.

Está na cozinha. Ninguém é visto. Há uma panela no fogo onde chia azeite de oliva. Parece ter sido esquecida pois o cabo plástico derrete sob o calor do fogo. 

O ambiente mostra uma balbúrdia de elementos. Há um vaso com flores brancas como jasmins e tuberosas em franco esmaecimento. Sobre a simples mesa de madeira há temperos como coentro, canela, gengibre meio ralado, espalhados sem programação costumaz, como se a receita tivesse sido interrompida de chofre. Em outro ponto, gases com fluídos corporais diversos, unguentos de aspecto repugnante. Há cigarros já apagados e outro ainda queimando sobre um cinzeiro já cheio. 

Ouve um grito gutural. Mulheres gritam também. Você sai correndo em direção do som. 
Corta

Para quem fez o link, essa cena, com algumas modificações para adequar a experiência que tive é a do filme O Exorcista. Foi a primeira imagem que me veio à mente após o soco inicial. Sim, soco para ferir. Fragile abre te agredindo com um áspero acento metálico que me lembrou cheiro/gosto de sangue. Em segundos várias notas entram correndo, uma atrás da outra o que mostrou o exato cheiro de plástico queimado, derretido. Observando bem dá para perceber direitinho a picância do gengibre e aquele aroma picante/amadeirado/agridoce do coentro. 

Várias resenhas que li dele falam que a Tuberosa impera em toda a evolução. Não senti isso. Conheço tuberosas muito bem. Na verdade eu fujo de perfumes que a tem como tema principal.  Mas na pessoa aqui o que prevalesceu foram as especiarias nele contidas, que me levaram à linká-lo ao quente Kenzo Jungle L´Elefant (que resenhei aqui), que compartilha várias notas com este Gaultier. 

Em seguida, sinto como se alguém amassasse flores brancas esmaecidas com um pilão, misturasse à elas azeite de oliva morno e hidratante corporal. Um pouco bizarro, eu sei, mas o hidratante entra porque senti cremosidade provavelmente provindas do jasmim. E envolta disso tudo à notas enfumaçadas. O cigarro da cena. 

Permanece assim por horas, passa por uma fase quase animálica (diria que tem castoreum na pirâmide, mesmo não citada) até que enfim desmaia em um inusitado e delicioso fundo ambarado e cremoso, com um almíscar macio envolto em doce baunilha e polvorosa íris.

Pra você ver que todo filme de terror pode ter um final feliz. 

Confesso, não gostei nenhum pouco dele. Talvez essa experiência traumática esteja atrelada à uma amostra oxidada, quem sabe?

Procurarei outra amostra e caso for, venho me retratar!
A minha intenção não foi agredir os fãs do perfume, até porque gosto muito da ousadia da casa Gaultier. Caso você o sinta diferente, poste nos comentários!

A Adriana Meire fez uma resenha bem diferente da minha no I put a Perfume on You (leia aqui).

Acho que terei pesadelos esta noite...
Bjxxx de K-Pax. 

PS: Revelem alguns erros gramaticais. Resenhei atabalhoadamente. 

6 comentários:

  1. Carla, você foi implacável com o pobrezinho (hahahahah)... Mas uma coisa me encanta: que ideia genial esse frasco e essa embalagem, né?!
    Beijo, querida!

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    1. Cris, eu acho que a minha amostra estava oxidada. Cheiro metálico é um indicativo.

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  2. Carla, consegui sentir o cheiro que você escreve e ouso afirmar que tua amostra está oxidada, infelizmente :( principalmente por conta da saída descrita.

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    1. Exato Dâmaris, cheiro metálico é sinal de oxidação. Quando conseguir outra amostra faço uma retratação.

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  3. Carla,

    conheci o Fragile há muitos anos, era adolescente. O EDP. Na época eu não gostei, achei seco, decepcionante para uma menina que queria saber qual aroma escondia aquele frasco lindo! Ficou nisso.
    Na APP eu ganhei amostra do EDT e não gostei...A impressão que eu tive é que era sabe o quê? Um perfume oxidado, como você bem disse!! Mas não era, é o cheiro dele mesmo. Sentido depois com mais calma , passando essa saída acre, as tuberosas aparecem de leve, rentes à pele e até docinhas mas que ele não é um perfume gostoso, não é não.
    Já o EDP tem essa mesma base de tuberosas mas como se fosse água das flores com açúcar leve. Esse sim, não chega a ser nenhuma maravilha mas é gostosinho e não tem aquela saída estranha do EDT.
    bjs

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    1. Li, eu desconfio que está oxidada peli cheiro metálico pungente. Mas se vc sentiu o mesmo, vai que na nossa pele se comporta assim. Um belo perfume para o Halloween

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